terça-feira, 13 de dezembro de 2011

- Hoje nós bebemos em nome dele. Gustavo, você honrou o nome da corporação e estamos muito felizes. Você tirou das ruas um homem terrível. Vamos lá pessoal uma salva de palmas, ele merece.
Após o pedido do velho policial, todos os companheiros repetiram o gesto e gritaram em homenagem ao detetive.

História 6 – Gustavo em chamas

Gustavo chamou atenção por se tornar o policial mais jovem da história da polícia de Miami a carregar o distintivo de detetive.  Ainda mais quando conseguiu, através de uma pista, capturar o homem mais procurado dos Estados Unidos. Mac Miller, também conhecido como “O Pintor”, por pintar as suas cenas de crime com o sangue das vítimas, era o mais cruel assassino da história americana além de ter envolvimento com o tráfico de drogas e ser o líder de uma temível facção criminosa.


- Parem com isso galera! Vocês sabem que não fiz nada além da minha obrigação. Apenas estou cumprindo os juramentos que fiz quando entrei para a polícia. Além disso, não conseguiria sem o apoio de vocês. Sou muito grato.
Apesar do discurso, estava sim muito feliz e satisfeito com seu desempenho. Precisava disso para responder as muitas críticas e descrenças de alguns polícias que duvidavam da sua capacidade.

-Acho que nós deveríamos comemorar fora daqui. Vamos aquele bar em Virginia Key. Lá estão as melhores dançarinas de Miami.
Os homens riram alto e gritaram concordando com o chefe. Menos Gustavo.
- Desculpa gente, mas não vou poder ir. Hoje é um dia muito especial pra mim. Vou pedir minha namorada em casamento.
- Tem certeza disso? Casamento é muito mais difícil do que prender o homem mais procurado do país. – disse um dos colegas provocando um ataque de riso nos demais.
- Ok gente, vamos deixá-lo em paz. Vá Gustavo, você merece um descanso. – Apertando a mão do rapaz, o chefe da divisão de homicídios de Miami deu as ultimas congratulações antes de liberá-lo.

- Obrigado chefe! Até mais rapazes.

Gustavo foi rápido para casa naquele dia. Tudo parecia conspirar para que o jantar que planejara fazer para sua futura noiva desse certo. Até o trânsito caótico da cidade parecia ter tirado uma folga.
Quando chegou em casa, deixou as compras na mesa e resolveu ligar a televisão. Gostava de ver o noticiário enquanto cozinhava.

-As autoridades de Miami anunciaram hoje a prisão do maior assassino do país. O pintor, como ficou conhecido, foi levado hoje à delegacia onde foi interrogado pelo detetive, responsável por sua prisão, Gustavo Rufino.
Após ouvir as palavras da repórter na televisão Gustavo fechou os olhos e lembrou exatamente da conversa que teve com o prisioneiro.
- Quero nomes Mac Miller. Vamos, me diga alguns se não quiser passar o resto da vida preso.
O prisioneiro parecia não notar a presença do policial e falava sozinho.
- Que lindo dia não é mesmo? Sim, claro que é! Ah mas está tão quente! Pois é, quente, quente demais.
O policial bateu na mesa irritado e disse:
 - Não estou brincando Mac Miller. Você tem um minuto para me dizer alguma coisa útil ou eu levo você pra cadeia agora mesmo.

Pela primeira vez o homem olhou para o policial. Os olhos arregalados indicavam que ele não estava em seu perfeito estado mental.


- Não acha que está quente aqui policial? Eu estou sufocando. Parece que as paredes estão em chamas. Posso até sentir o cheiro de fumaça. HÁ HÁ HÁ! Você tem medo de fogo não tem? Como as pessoas podem ter medo de algo tão belo.

Mac Miller brincava com as mãos enquanto falava, simulando uma chama. Gustavo se irritou de vez e agarrou o bandido pela camisa.

- Não quero mais ouvir uma palavra sua seu monstro. Não me importa mais se você vai colaborar com a investigação. Eu quero que você apodreça na cadeia.
Com força, ele jogou “o pintor” no chão, que não se importou nem um pouco e continuou a brincar com as mãos, e deixou a sala de interrogatório.
Não queria pensar mais nisso. Aquele homem terrível teve o fim que mereceu. Agora ele queria dedicar-se ao jantar que ia preparar. Comprou todos os ingredientes para fazer um Penne ao molho branco, prato favorito de sua namorada.


O namoro começou com eles ainda crianças e hoje, dez anos depois, ele iria fazer o pedido que a tanto gostaria de ter feito, mas não achava ser o melhor momento.
O barulho da campainha o surpreendeu. Ela chegou muito cedo.
- Oi amor! – Disse ela ao vê-lo, assim que a porta se abriu. Ela parecia estar sempre radiante e ele nunca tinha visto ela sem um sorriso no rosto.  Essa era a qualidade que mais apreciava nela


- Você chegou cedo, eu...

- Já sei, você nem começou a preparar o jantar ainda certo? Já imaginava. Mas não tem problema. Eu vim correndo depois que vi no jornal meu namorado. Parabéns meu amor.
Em seguida deu um beijo demorado em Gustavo.
- Você quer uma ajuda com a mesa?
- Por favor, assim não jantaremos tão tarde!
A moça começou a organizar a mesa. Primeiro colocou os pratos e os talheres, em seguida colocou duas taças e o vinho que tinha trazido. Abriu a garrafa e serviu um pouco para si.
- Ei! – Gustavo gritou da cozinha.
- Desculpe, estou apenas experimentando!
- Sei! Deixe pro jantar - Os dois riram e voltaram para sua tarefas. A garota agora colocava algumas velas na mesa.

- Amor, onde você guarda os fósforos? – Ela perguntou olhando em direção a cozinha, aguardando a resposta.



- Tem uma gaveta aí na adega. Lá tem uma caixinha.

A moça foi até a gaveta e selecionou um fósforo cuidadosamente. Como não houve resposta Gustavo imaginou que ela não tivesse encontrado.

- Achou? – disse assim que a viu.

- Sim. Está aqui.
Ela ergueu o fósforo para provar.


- Ei. Eu queria te dizer um coisa importante.

- Huum! Coisas importantes devem ser ditas sob a luz de velas.

Ela foi delicadamente em direção a primeira vela. Gustavo ficou apenas olhando para a moça que tanto amava. Nunca teve tanta certeza a respeito de alguma coisa como tinha do pedido que faria em seguida. Iria passar o resto dos seus dias ao lado dela.

Tudo aconteceu num piscar de olhos. A última coisa que ele viu foi o sorriso da sua namorada e o fósforo acendendo. Depois disso ele apagou.

Acordou com o corpo dolorido. Tentou levantar ainda com os olhos fechados mas não conseguiu.O cheiro de queimado era forte e estava muito calor.

Gustavo não queria abrir os olhos. Sabia o que estava acontecendo. Não podia ser verdade, não enquanto não abrisse os olhos, o que aconteceu quando um pedaço do teto desabou e fez muito barulho. Agora ele estava vendo a cena que tanto temia.

Procurou com os olhos cheios de lágrimas por sua namorada. Não conseguia enxergar direito por causa da fumaça quente.

Andou até a entrada da cozinha onde encontrou o corpo da moça. Ela estava deitada com a barriga para baixo. O sangue escorria pelo seu rosto e mesmo assim ela continuava linda, com os cabelos incrivelmente arrumados. Como ela conseguia fazer isso?

Gustavo ajoelhou ao seu lado e não conseguiu mais conter as lágrimas. Ficou ao lado da moça por alguns minutos. Não se importava com mais nada. Ficaria ali pra sempre. Ficaria com ela pra sempre.
A esta altura o fogo já dominava toda a casa e mais uma explosão aconteceu fazendo voar cacos de vidro e derrubando parte do teto.


O ódio cresceu em seu coração de tal forma que parecia que ia explodir.  Em sua mente, Gustavo repassava a conversa que teve com Mac Miller e a sua fascinação pelo fogo. O desgraçado já havia planejado tudo.

Um súbito calor começou a subir pelo seu corpo. Era um calor insuportável que subia e o queimava por dentro, tanto que o fez gritar. O seu corpo ficou completamente em chamas.
Pegou um caco de vidro que encontrou no chão e olhou seu reflexo sem acreditar no que via. O fogo circundava seu corpo como se fosse uma manta mas ele não o sentia. Era imune ao fogo.
- O que está acontecendo comigo? Acho que eu estou morto. É isso, estou morto!
Mais uma vez ele fechou os olhos. A casa desabou em cima de seus ombros e ele desmaiou.
Uma hora se passou até que acordasse novamente. A dor era terrível. Não conseguia raciocinar direito.
Levantou com dificuldade e se sentou na maca.

- Ei! Cuidado! Você não deve se mexer. – falou o enfermeiro que tentava deitar o rapaz novamente, que não obedeceu.
- Onde eu estou? – falou ainda confuso.
- Você está no Mercy Hospital. Sua casa explodiu por causa de um vazamento de gás. Sinto muito!
- Obrigado- Gustavo fechou os olhos novamente.

- Eu vou chamar o doutor e dizer que você acordou. Se precisar de algo só apertar esse botão vermelho acima da cama.
O enfermeiro estava saindo da sala quando voltou de repente.
- Ah, seus pertences estão na cabeceira ao lado da sua cama. Pelo menos o que restou deles.
Com uma olhar triste o enfermeiro deixou o paciente sozinho.
Gustavo olhou para o local indicado pelo enfermeiro e com dificuldade pegou suas coisas. O Celular, que pelo estado não funcionava mais, a carteira que ainda estava suja por causa das cinzas e uma carta de baralho.

- O que é isso? Isso não é meu.
A carta de baralho estava intacta, diferente dos seus outros pertences. Era a carta sete de copas. Gustavo ficou olhando para ela tentando lembrar em que momento aquilo foi parar em seu bolso, mas não obteve resposta.
O mais estranho de tudo é que a carta tinha um endereço escrito em seu verso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário