sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Crônica: Capitães

Ele era o rebento mais novo da família que residia no imóvel mais vistoso da rua. Quando moleque brincava na rua como qualquer outra criança. A família aparentava ser dita, mas aos poucos tudo foi desmoronando. Pai ausente, irmãos desviados. Até as paredes pareciam sofrer. O que era uma mansão passou a ser um sobrado abandonado no tempo. O guri foi desviando-se, assim como a moral da família e do recinto onde residia.

Quando a família, que nunca deixou faltar nada, se deu conta, o jovem já estava em um mundo ilícito. A mobília passou a alimentar o vício. Fumou inclusive os aparelhos eletrônicos.

A genitora passou a ser chantageada. Agora os presentes não eram pedidos em meio a abraços e beijos, e sim como exigências para não se envolver ainda mais com o crime.

Já rapazote, viu nos púberes uma forma de fácil lucratividade. A forma já havia sido vivenciada. Eis que sua morada passou a ser frequentada, sua calçada era a porta da loja, a esquina o local de encontro com os clientes.

Fornecedores? Tinham por todos os lados. Clientes? Como tomar doce da mão de crianças, ou nesse caso, colocar nas mãos dos menores. As famílias? Nada faziam. Algumas nem sabiam do envolvimento.

Ninguém mais escapava. O guri detinha todo o poder, muitos braços direito e dominava dezenas de fracas cabeças. No bairro, ninguém ousava enfrentá-lo. A vizinhança passou a temê-lo, e seus pupílos passaram a furtar à luz do dia. Mas estes capitães não eram como os da areia, esses tinham a consciência do que faziam, e não surrupiavam pela emoção do ato, e sim para alimentar o vício.


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