Hoje assisti o documentário Lixo Extraordinário, indicado ao Oscar na categoria de Melhor Documentário 2011, produzido pelo artista plástico Vicente José de Oliveira Muniz, conhecido mundialmente como Vik Muniz. Filmado no maior aterro sanitário do mundo, Jardim Gramacho – RJ, Vik fotografou catadores de materiais recicláveis com intuito de traçar um perfil desses catadores. As fotos foram ampliadas no chão de um estúdio onde foram reconstruídas cuidadosamente, pelos próprios catadores, utilizando a matéria que são o ganha pão de milhares de pessoas: o lixo.
Aluguei o documentário (sim, eu alugo filmes e documentários) sem saber que aquele material viria como complemento de uma discussão em sala de aula sobre intencionalidade discursiva, que passou a abordar política, que passou a abordar pobreza. A discussão parecia tomar rumos partidários enquanto os alunos defendiam e criticavam posturas de partidos políticos e as reais intenções em seus discursos (justo, já que a aula era sobre intencionalidade discursiva). O revoltante é que a burguesada (ou sendo politicamente correto: os estudantes de jornalismo de uma universidade particular e moradores de um bairro de classe média) criticavam as esmolas dadas pelo governo para gente pobre, que segundo a maioria, são pessoas vagabundas, sem vontade de vencer na vida e que não aproveitam as oportunidades.
Confesso que ver uma pessoa que pede um trocado para comprar leite para os filhos e saber que ela tem uma TV de LCD, Full HD, os “caralho a quatro” (desculpem-me pelo palavrão, mas, talvez, voltarei a usar palavras de baixo calão neste texto) também me revolta, mas não é por que uma pessoa faz isso que todas outras fazem. Não podemos generalizar.
Olhar o cenário da classe baixa, ou da classe miserável, do alto do seu apartamento ou casa de luxo é fácil. É fácil dizer que o governo dá esmola e o povo idiota fica feliz com as migalhas. Também acho que não é dando misérias aos mais pobres que o país irá melhorar. Sei que muitas famílias não precisam do dinheiro dado, mas sei que em muitos lares esse dinheiro pode determinar se as crianças tomarão café da manhã, ou não, antes de irem à escola.
Quando se olha de longe não se vê a realidade. Por isso, se você acha que conhece a classe baixa, então sai do seu bairro de riquinhos e visite um bairro pobre. Mas visite com a intenção de tentar conhecer a realidade e entender as pessoas que ali moram, e não com o olhar amedrontado que você fica ao parar em um farol qualquer na cidade, de madrugada, ao voltar do show da sua banda favorita, onde o ingresso custou o valor do jantar de centenas de famílias da periferia.
No documentário, o próprio Vik Muniz diz ao sobrevoar o aterro que não se pode ver lá do alto a principal essência daquele aterro: a vida. A única preocupação de muitas pessoas naquele lugar e em tantos outros aterros, favelas e bairros da classe baixa/miserável é a preocupação em manterem-se vivos. Então burguesada, se manter-se vivo não é uma preocupação para vocês, ótimo! Mas não diga que pobre é frescurento e preguiçoso. Não diga que todos têm chances na vida. Você acha que alguém como Suelem Pereira Dias (uma das personagens do documentário) que trabalha desde os sete anos no aterro teve oportunidades na vida? Entenda que o fato de você ter nascido em uma família com estabilidade financeira, ou uma família onde seus pais tenham tido a oportunidade de estudar, já faz de você um privilegiado nessa sociedade onde a minoria desfruta das riquezas.
No documentário, o fato dos catadores terem conhecido o estúdio, foi como se eles pudessem ter a chance de ao menos pensar que poderiam viver em outra realidade. Mas quantas comunidades recebem a visita de alguém como Vik Muniz, com a intenção de ajudar aquela comunidade? Mesmo que a intenção de Vik tenha sido promover-se com essa arte (o que duvido muito, pois conheço outros trabalhos do artista), ele permitiu que aquelas pessoas pudessem ver o mundo de um outro ângulo. Não vamos discutir a real intenção de Vik, mas vamos dizer o que aquilo significou para aquela comunidade. Ele cita no documentário ter crescido em uma família pobre e que gostaria de dar um retorno por tudo que recebeu em sua vida. Agora tem um bando de playboy filho da puta que nasce em berço de ouro e só sabe olhar para o próprio umbigo, ou no máximo, para o umbigo da elite, tentando apagar da sociedade tudo que vê como inferior: pobres, negros, nordestinos, etc.
Uma pessoa inteligente não é aquela que fala muitas línguas, é aquela que compreende o que o povo da sua própria nação clama. Uma pessoa culta não é aquela que tem um linguajar fino, é aquele que sabe falar da realidade como ela realmente é, e não como deveria ser. Um país de todos, definitivamente, ainda não é o nosso, é um país que a gente só vai conseguir ter quando as pessoas deixarem de ser mesquinhas e enxergar que quando falamos de pobreza, nós falamos de vidas.
Para quem não assistiu o documentário ainda, segue abaixo:
Seu Blog nos deu um presente ,este documentario!!!!
ResponderExcluirParabens adorei tudo e ja estou seguindo e sempre estarei por aq conferindo novidades.
bjs
http://segredosdajana.blogspot.com/
Legal Jana!
ResponderExcluirComo você descobriu nosso endereço?
Visite-nos sempre.
Beijos!
Muito bacana seu blog,incluisive por ter o documantario para que,as pessoas que nao puderam ver antes possao comtemplar de uma arte tao rica em beleza e detalhes isso atraves do lixo
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