quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

História 3 - Super Diego


- Filho, vem almoçar – Gritou de dentro da casa.
- Já vou mamãe, assim que impedir Lex Luthor de dominar o mundo. Vamos Lex, mostre do que você é capaz.
- HÁ HÁ HÁ! Super Homem, você se lembra disso – o garoto tira uma pedra verde de dentro do bolso e aponta para o outro.
- Não! Criptonita! Aaaaaaaaargghh! -  Com um grito de dor o rapaz caiu no chão.
- Meninos eu não vou avisar de novo – disse a mulher agora perto deles – E devolva minha toalha de mesa “Super Man”.

História 3 – Super Diego

Diego é um grande fã de histórias em quadrinhos e games e seu grande sonho desde criança é ser um super-herói. Para ele o mais próximo que pode chegar de realizar esse sonho são os concursos de Cosplay (atividade lúdica praticada principalmente por jovens e que consiste em disfarçar-se ou fantasiar-se de algum personagem real ou ficcional, concreto ou abstrato) dos quais participa profissionalmente e é, inclusive, o atual campeão.

- Como você descobriu esse talento? – perguntou a repórter levando o gravador até a boca do rapaz.
- Quando eu era criança brincava com meu vizinho. Cada dia eu interpretava um herói e ele era meu vilão. Brincávamos por horas. Nossas mães enlouqueciam com isso.
- E esse seu amigo, também participa de campeonatos de cosplay?
- Acho melhor acabarmos a entrevista por aqui. Tenho que ir pra faculdade. 
Foi a última coisa que disse a repórter antes de se retirar da sala. Desde que Diego brigou e parou de falar com Cesar, que uma vez fora seu melhor amigo, não gostava nem de pensar no assunto.

Foi com ele que Diego descobriu que possuía talento para o teatro. Podia interpretar qualquer um com tal perfeição que impressionaria até  mesmo o próprio homenageado.
Esse talento rendeu ao garoto o título de melhor cosplay em um grande festival. Agora ele tenta conciliar a faculdade com as muitas entrevistas para revistas e sites do gênero, além dos ensaios que faz todos os dias. 

Diego chegou tarde à faculdade e entrou na sala que estava em silêncio, pedindo licença ao professor, fazendo com que, por alguns segundos, os alunos olhassem para ele, para depois voltar suas atenções ao professor que falava sobre lógica de programação.

O rapaz se sentia muito a vontade na faculdade. Aqui ele fazia sucesso interpretando Diego e ninguém mais. Apenas seus amigos mais próximos conheciam o hobby dele e ajudavam sempre que podiam com os preparativos para as apresentações.

Quando a aula acabou Diego saiu com pressa, como sempre fazia, para poder aproveitar o resto do seu dia para ensaiar. Desceu as rampas correndo, mas quando entrou no corredor que levava a saída parou, bruscamente. Cesar o encarava com um sorriso no rosto.

- Está indo ensaiar não é? Acho bom que você esteja bem preparado, pois esse ano eu vou concorrer e pode ter certeza, você se surpreenderá.
 - Ou você podia se apresentar comigo. Com certeza a gente ganharia essa! – Diego conhecia Cesar e sabia que ele não teria uma reação positiva com aquele comentário.
- Você não entende não é – Caminhava enquanto falava, tornando ainda mais irritante aquela conversa – Eu quero derrotar você. Quero ser o campeão do festival cosplay e não vou dividir o prêmio com ninguém. Espero que não se incomode com o segundo lugar. – Cesar deu as costas e foi embora, antes que Diego pudesse responder a altura. Ele não se importava em não ganhar o festival, pois participava por diversão. O que lhe incomodava era a atitude de Cesar. Como ele pôde mudar tanto?
Um dia antes do grande festival Diego fez um treino pesado. Passou horas repetindo uma sequencia de socos e chutes e decorando o texto que iria dizer.
Enquanto isso seus amigos admiravam seu quimono e seu par luvas:
- Cara, essa fantasia de Ryu está perfeita. Você mesmo que fez? – perguntou um dos meninos sem tirar os olhos da roupa
- Fui eu sim! Ainda tenho alguns ajustes pra fazer, mas já está praticamente pronta.
- Da hora!
O ensaio foi longo até que Diego resolveu ir deitar. Não pregou os olhos durante toda a noite, como sempre acontecia antes de grandes apresentações. 

- Filho, está na hor... – A mãe do garoto mal pode terminar a frase. Diego já estava pronto com a mochila nas costas.
- Você não dormiu não é mesmo? – Perguntou sabendo a resposta que ouviria.
- Nem um só minuto – Disse abrindo um sorriso de deboche.
O festival de cosplay de São Paulo é o maior de todo o mundo, chega a receber cerca de quinhentas mil pessoas por dia e é transmitido por canais de TV de todo o mundo.
Diego estava no vestiário com seus amigos apenas ouvindo, ou tentando ouvir, as apresentações que antecediam a sua. A essa altura já estava todo caracterizado.
Sua apresentação era com certeza a mais esperada da noite.
Combinou com seus amigos os últimos detalhes antes de entrar no corredor que levava até o palco. Ficou em frente à porta esperando a voz do apresentador do evento chamar seu nome.

- Ei Ryu – A voz que chamou não vinha do palco. Pelo contrário, vinha do outro extremo do corredor.
-  Ken? – Diego não conseguia acreditar no que estava vendo. Ele fez sigilo total sobre qual seria sua fantasia. Como Cesar poderia saber? Porque ele estava vestido como o grande rival de Ryu do game Street Fighter?
- Está pronto pra sua apresentação Ryu?
- Claro! – Diego virou em direção a porta quando ouviu os gritos enlouquecidos que vinham do lado de fora. Chegou a sua vez!
- Não posso deixar você ir. A sua apresentação começa aqui! – Com um movimento rápido César ficou em posição de combate.
- Você está falando sério?
A resposta de Cesar foi um soco no rosto de Diego que o fez dar alguns passos para trás. Enquanto o apresentador repetia seu nome, o jovem limpava o sangue nos lábios e ficava também em posição de combate.
- Você já era Ken!

Com um pulo rápido Diego investiu contra Cesar que conseguiu se esquivar do golpe. Uma sequencia de socos e chutes foi desviada até que Diego encontrou uma brecha e com uma rasteira derrubou o adversário no chão.
- Ora seu... Cada vez mais intensa, a luta parecia uma cena de filme de ação. Os dois realmente incorporaram em seus papéis e trouxeram para a realidade a rivalidade do game.
Mais uma vez o apresentador chamou o nome de Diego que virou em direção a entrada do palco.

Aproveitando a sua distração, Cesar deu um chute certeiro na barriga de Diego que voou em direção a porta de acesso ao palco, escancarando-a e revelando o duelo para todos os presentes.
A luta agora estava sendo transmitida para todo o mundo e para as milhares de pessoas presentes que não paravam de especular se aquilo era parte do show ou não.
Diego levantou sentindo uma forte dor no abdômen. Cesar não estava brincando. A luta recomeçou agora acompanhada dos sussurros e da gritaria a cada golpe esquivado. A torcida vibrava a cada golpe que Diego acertava.

Cesar em um ataque de fúria acertou uma sequencia de chutes em Diego e o derrubou no chão com força fazendo a plateia vaiar a boa investida do vilão.
- HÁ HÁ HÁ! Esperava muito mais de você Ryu. – Virando as costas para o adversário caído, Cesar foi em direção as câmeras.
- Esse é o campeão a quem vocês aplaudem? Não passa de uma imitação barata.
Enquanto Cesar fazia seu discurso Diego levantou devagar tentando se recuperar dos golpes.  Olhando para o seu adversário, ele formou uma posição muito conhecida pelos fãs de Street Fighter, levando o público a loucura.

- Você só pode estar brincando comigo! – Cesar ria alto.
Diego movia as mãos com leveza formando no ar uma espécie de círculo, primeiro com movimentos lentos que foram acelerando até que pequenas partículas de energia começaram a ser sugadas em direção ao centro da esfera invisível. Essas partículas de energia foram se acumulando dentre as mãos do rapaz até que se via claramente uma espera de luz.
A plateia que gritava até então se calou.  Cesar parou de rir e ficou com o semblante sério.
Quando a bola de energia já não cabia mais nas mãos de Diego ele a soltou na direção de Cesar gritando:
- Hadouken!

O golpe atingiu o peito de César muito rápido, erguendo o corpo no ar majestosamente e depois jogando-o com força pra fora do palco.
A plateia demorou alguns segundos para entender que aconteceu ali antes de gritar enlouquecidamente. 

O apresentador agora gritava o nome do rapaz no microfone e falava coisas que Diego não chegou a ouvir. Ele não conseguia tirar os olhos de suas mãos queimadas pela bola de energia. Não sabia como tinha feito aquilo. Mas a sensação era inexplicável.
A plateia gritava muito sem se importar com Cesar que agora recobrava os sentidos devagar. Ainda sentia o calor da bola de energia percorrer seu corpo.
Diego olhou para o seu amigo, depois para as suas mãos novamente e por fim para as pessoas que agora o encaravam intrigado. Deus alguns passos para trás e virou em direção a porta por onde entrou e saiu correndo.

Correu por todo o corredor que levava ao vestiário, passou pelas portas e contornou o prédio até chegar a entrada do estacionamento que agora estava bloqueada por uma limusine.

- Entre Diego, ou melhor, Ryu.

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