sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Propaganda Enganosa


O publicitário é aquele que consegue fazer um país, e por que não dizer, o mundo, mudar de assunto em menos de 24hs. É aquele que consegue vender uma ideia, transformar algo ruim em bom, vender a imagem idealizada, promover a campanha de uma empresa, criar algo novo, surpreender com a criatividade. Mas também é aquele que tem o dom de promover futilidades que impregnam na cabeça de toda a sociedade. Tenha visto os casos de Luíza do Canadá e demais assuntos recentes, que transformam pessoas desconhecidas em celebridades.

Esse post não é mais uma discussão idiota entre publicitários e jornalistas, até por que nossa equipe é formada por duas pessoas de cada área, e temos ciência que há tanto publicitários e jornalistas que realizam trabalhos dignos, como há aqueles que são a vergonha das respectivas classes.

Mais ridículo do que os assuntos que ganham as mídias sociais nos últimos anos são as propagandas enganosas de produtos milagrosos. Quantas vezes você já não ficou hipnotizado com aquele aparelho que promete um abdômen mega definido em poucos dias? Ou um Milk Shake que você pode tomar sem culpa, e que com certeza ficará com o corpo dos atores que aparecem no horário nobre? Caros gordinhos e caras fofinhas... que receita é essa que você não precisa fechar a boca para ter um corpo invejável? Sempre imaginei quanto tempo os atores dos comerciais de tais produtos gastavam para emagrecer tanto, e vi um vídeo com a resposta. Da barriga de chopp ao corpo definido em 5hs! Será? Veja como os publicitários conseguem te convencer a comprar o Milk Shake da Luciana Gimenez, os equipamentos de malhação da Solange Frazão, etc, etc, etc...

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O ginásio lotado clamava por seu nome. “Il Niño”, como era chamado pelas massas, o campeão do momento, estava levando uma surra. A plateia permanecia atônita àquele momento. O que estava acontecendo com o campeão do México?

HISTÓRIA 6 – SANDRO, A VERDADEIRA SUPER-FORÇA

A “lucha libre” jamais se esqueceria daquele jovem e poderoso lutador chamado Sandro, que ficou conhecido como “Il Niño”, em alusão ao poderoso furacão e ao fato de ser um lutador muito jovem. Mas havia um grande segredo por trás de sua habilidade...

A família Montoya ficou muito conhecida no México por revelar os grandes lutadores Juanito “El Puño” e Ricardo “Il Hombre” , consecutivamente, pai e filho, que se destacaram na Lucha Libre, modalidade clássica de luta-livre mexicana na qual os wrestlers utilizam máscaras e possuem algum tipo de alcunha. Uma das modalidades de luta mais populares do mundo e um dos grandes fortes do país, Juanito e Ricardo conseguiram a proeza de jamais serem derrotados em ringue.

Com a passagem do tempo, Juanito teve de deixar os ringues.  Seu filho , por outro lado, perduraria por mais alguns anos antes que também precisasse se aposentar, mas por uma razão diferente. Ricardo teve um filho, Sandro. As muitas lutas e constantes viagens fizeram com que Ricardo quase não tivesse contato com o filho. A relação com sua mulher desgastava-se, e esta, desesperada, resolveu abandonar o marido, e entregou a criança a avó paterna.
A partir deste momento, Ricardo decidiu abandonar as lutas e dedicar-se ao filho. E durante muitos anos não se ouviu falar dos Montoya...

15 anos depois...
Sandro já era um garoto, considerado grande para sua idade. Crescera sob os mimos dos avós e do pai, e era fascinado pelas histórias de luta que ouvia deles. Já vira alguma coisa na TV, jornais, revistas antigas...mas hoje não se falava mais nos Montoya, eles eram passado.
Certo dia Sandro encontra seu pai saudosista assistindo um VHS de sua luta com o temível “Toro Rey”, campeão espanhol de luta-livre. Naquele embate clássico, Ricardo massacrou o até então indomável espanhol com seu golpe “Lo Dorso”, no qual encaixava os dois braços do adversário nos seus e impulsionava o dorso sobre o oponente, o levando ao chão de bruços, com um enorme impacto. O ataque era fulminante.

Ricardo sorria sozinho, longe em pensamentos, certamente lembrando-se de cada detalhe daquela luta. Sandro se aproximou e somente então ele notou a presença do filho.
- Você não sente falta, pai? – Indagou o garoto, notando nitidamente no rosto do pai a alegria que este tinha no que fazia.
- Claro, meu filho. Todos os dias. – Sorriu, com um pouco de amargura.
- E você se arrepende de ter parado?
- Não. Fiz o que era certo. Só lamento não poder continuar...
O silêncio se fez presente por alguns instantes naquela sala. Após muito balbuciar, Sandro expressou algo que já carregava consigo há algum tempo. Um desejo que surpreenderia seu pai.
- Pai, eu quero ser um lutador. Como você e o vovô.
- O-o que disse?? – Disse o pai, levantando-se da poltrona

- Estou decidido pai. Eu quero ser o melhor, como vocês foram. O nome da nossa família será lembrado novamente! Está no nosso sangue, não está?
- Filho...
- Por favor, pai. Sei que sou capaz, e é o que sempre desejei! E eu quero que você me ensine!!!
- Você sabe o que aconteceu comigo. Sabe que esta não é uma vida só de glórias...você aceita isso? De verdade?
- Claro!

- Se é assim... – Ricardo fechou os olhos e soltou um singelo sorriso por um instante. No fundo de seu coração, ele sempre desejara isso, enxergava no filho uma nova chance de recomeçar, de lutar novamente, de levar o legado da família adiante. Tinha muito receio, é claro, devido a tudo que lhe aconteceu. Não gostaria de ver a história se repetir, mas não conseguira esconder a empolgação, que naquele momento era maior do que qualquer preocupação. – Teremos um longo caminho pela frente.
Sandro deu um forte abraço no pai, e em seguida deixou o cômodo. Emocionado, Ricardo não conseguiu evitar que uma lágrima escorresse em seu rosto, e enxugou-a em seguida. Neste mesmo instante uma mão tocava o seu ombro. Era seu pai, Juanito.

- Você sempre esperou por isso, não foi? – assentiu o homem de idade avançada.
- E você também, não é pai?
- Este dia iria chegar... – o velho campeão pausou sua fala por alguns segundos e retomou após uma tosse seca. – Ele não sabe sobre a sopa, sabe?
- Não pai...isto é um segredo e sempre será. Prometemos que isto ficaria com a gente.
- Se quiser que ele seja tão bom quanto nós fomos, ele deverá saber. Aliás, ele acabará descobrindo, se compreender que não é tão forte como nós já fomos. É bom que pense nisso.
Juanito deixou a sala e Ricardo ficou ali, por ainda muitos minutos, em silêncio, pensativo.
Meses se passaram.

Ricardo e Sandro treinavam arduamente, quase todos os dias. Além dos fundamentos ensinados pelo pai, Sandro praticava exercícios de musculatura com afinco. Também sempre acompanhava os torneios de lucha libre, observando as diversas manobras realizadas pelos lutadores mascarados, o que lhe inspirava e lhe dava ideias de golpes que poderia utilizar.
Durante todo este tempo, Ricardo mantivera em segredo o principal fator que tornara ele e seu pai os maiores lutadores de sua geração. A super-força e a resistência e vigor inacabáveis era, na verdade, resultado de uma sopa especial preparada por Mariazita, esposa de Juanito e portanto a avó de Sandro. Descendente de antigos bruxos astecas, Mariazita trouxe de sua tradição a receita que levava como principal ingrediente sete ervas-daninha e uma pimenta especial, conhecida como “Chilito”. Os astecas acreditavam que tal porção os tornava imortais. A imortalidade ainda não fora comprovada, mas de fato, uma força extraordinária era conferida aos homens que ingerissem uma enorme porção desta receita. E a família Montoya carregava consigo o segredo deste poderoso preparo.

Sandro acreditava fielmente que a super-força que sua família possuía era algo ligado a sua genética. Mas no dia em que tivesse de fato um grande desafio, iria descobrir que isto não era verdade. Ricardo então se encontrava em um terrível dilema. Deveria contar a verdade ao filho? Somente assim ele seria um grande lutador à sua altura, mas contando este segredo, perderia a confiança do garoto, que tanto admira ele e o avô.
A decisão não podia ser mais adiada quando Sandro se inscreveu, contra a vontade do pai, em um torneio amador que aconteceria na cidade. A primeira luta já estava marcada para o dia seguinte. Seu adversário seria Cautemoc Bueno, O Zango, um homem de 2,05m de altura e 140kg. Seria um vexame, na certa. Mas Sandro estava confiante demais.

- Pai, vai ser incrível! Nós somos invencíveis, você sabe. Vai ficar orgulhoso de mim...
- Não é bem assim filho...eu pedi que fosse com calma!
- O que foi , pai? Foi você mesmo que me treinou. Eu sou um Montoya, nós somos os melhores lutadores de lucha libre de todos os tempos. Você não precisa se preocupar.
- Filho...há algo que eu preciso te contar. – Era chegado o momento. Ricardo estava muito tenso e uma veia saltava por sua testa. Sandro reconhecia aquele sinal, isso só acontecia quando seu pai estava com algum problema sério.
- O que foi pai? Aconteceu algo, não foi?
- Tem algo que eu devia ter te contado há muito tempo. Eu sempre sonhei com o dia em que você se tornasse um lutador, mas...eu tentei esconder algo primordial de você.

- Fala logo, pai! – Sandro ficava curioso e impaciente, ao mesmo que mais preocupado.
- Você sempre admirou tanto eu e seu avô. Esse segredo...eu não queria perder você filho. Sua confiança. Eu perdi sua mãe...se você soubesse da verdade, talvez perderia sua admiração, que é a coisa mais valiosa que eu possuo. Mas agora acho que isso vai acontecer de qualquer jeito.
- Não estou entendendo... – Sandro ficava ainda mais confuso.
- Sobre nossa força filho...ela não é natural, como você sempre acreditou. Nunca fomos de fato, super-fortes. Temos um porte físico avantajado sim, mas a força que nos consagrou não é algo genético. – Nesta altura, Sandro já estava de olhos arregalados e boca aberta, recebendo a informação que mudaria toda sua concepção das coisas até aquele instante. – Como você sabe, sua avó é descendente de astecas, e ela trouxe consigo uma receita de sopa que dá força sobre-humana aos homens que a ingerirem. Toda vez que lutamos, tomamos uma porção dessa sopa e sentimos um enorme inchaço, tanto interno quanto externo. É uma sensação incrível...parece que somos capazes de destruir tudo. Lamento desapontá-lo...mas esta é verdadeira fonte de poder dos Montoya.

O silêncio se fez presente por alguns segundos.
- ...Eu já sabia.
- C-COMO??? – Ricardo ficou incrivelmente surpreso com a reação do filho. Não era possível.
- Naquele dia eu ouvi você e o vovô conversando sobre isso. Fiquei curioso e instigado, decidi perguntar para a vovó. Ela tentou disfarçar, mas, você sabe, ela não consegue mentir para mim. Desconfiado da reação dela, segui ela pela casa e a vi escondendo um livro no assoalho do porão. Entrei lá mais tarde e, lendo o livro, entendi sobre o que vocês falavam aquela hora.
- E...mesmo assim, não ficou com raiva de mim?

- Fiquei chateado, confesso. Mas depois compreendi tudo. Sei que era importante pra você manter isto em segredo, e por isso mesmo fingi não saber de nada. Isso não tem importância agora, pai. Somos uma família, e uma família de campeões. Eu só quero realizar meu sonho, que também é o seu pai. Então agora vai me deixar lutar, certo?

- Sem a sopa??
- Claro que não. A vovó já sabe que eu sei. Foi ela quem me pediu descrição.
- Mamãe....he. – De alguma forma, Ricardo estava mais aliviado.
As coisas agora pareciam caminhar. Nada poderia impedir o surgimento de um novo lutador Montoya. Antes do início da primeira luta, Sandro recebeu de seu pai a primeira máscara de lutador. Uma máscara vermelha com detalhes amarelos.
Tomando a sopa de sua avó uma hora antes da luta, Sandro não deu a menor chance ao poderoso Zango, nocauteando-o logo no primeiro assalto. Todos os expectadores ficaram estarrecidos com a força do garoto de apenas 16 anos. Sandro foi campeão daquele torneio, o que despertou a atenção não só daqueles expectadores, mas de toda a cidade e da mídia local. Um dos jornais chamou aquele garoto de “Il Niño”. O apelido pegou.
Com as constantes vitórias em torneios regionais, Sandro não demorou a receber um convite da liga nacional de Lucha Libre. O sonho enfim se tornaria realidade. Era, agora, um lutador profissional.

O nome Montoya ressurgia no cenário nacional através das vitórias de Il Niño. “O lutador mais forte do México”; “O prodígio”. Ricardo se enchia de orgulho. Sandro conquistou seu primeiro cinturão em um duelo épico com Bonasburro, o até então imbatível campeão da Lucha Libre. Tal façanha despertou a atenção de gente envolvida com os bastidores do esporte. Gente que lida com muito dinheiro e ambição. A máfia da luta.

- Parabéns. Você é incrivelmente forte, garoto! – Disse um homem de altura mediana, portando óculos escuros e um chapéu negro como todo o seu terno. Possuía um aspecto estrangeiro, provavelmente americano. Estava acompanhado de mais dois homens, que se mantinham uma linha atrás dele, no momento em que abordara Sandro quando acabava seguia rumo ao vestiário.
- Obrigado. – Agradeceu singelamente.
- Sua força é mesmo incrível. Faz jus à fama que sua família conquistara há anos atrás. “Os lutadores mais fortes do mundo”. Realmente incrível.
Sandro ficou ressabiado quando o homem citou sua família. Poderia ele saber de algo sobre a sopa? De qualquer forma, seria melhor evitar aquele sujeito.
- Bom, estou com um pouco de pressa... Se me dá licença...
- Espere. – Segurou Sandro pelo braço. – Tenho uma oferta interessante pra você. Já pensou em lutar na WWE, garoto? A maior liga de luta livre do mundo?
- WWE? – Sandro virou-se e soltou o braço do homem, soltando um leve sorriso de deboche. – Por que eu deveria?
- Lá estão os melhores do mundo. Pense no que você e sua força poderiam fazer lá!
- Aquilo é uma farsa! Não tenho intensão de deixar meu país e muito menos de participar de uma palhaçada daquelas. Eu sou um lutador, não um ator. Me dá licença.

Sandro deu as costas e adentrou o vestiário, fechando a porta com força. Aquele sujeito deixou o local enfurecido.
Alguns dias depois Sandro participava de uma nova disputa de cinturão, desta vez com o glorioso Serpentil, conhecido como “O Rei da Lucha Secundária”. Sandro esperava sua avó chegar, do lado de fora do ginásio, trazendo sua sopa. Alguns metros distantes estavam aqueles homens americanos novamente, apenas observando. A velha Mariazita chegou e entregou um embrulho ao neto, antes de despedir-se dele com um beijo na fronte. A velha senhora deixava o local.
- Já sabem o que fazer, não é? – Inferiu o homem de chapéu aos seus subordinados.
A luta prosseguiu, e, obviamente, Sandro faturou um novo cinturão. Aclamado pelo público, Il Niño deixava o ringue quando aquele homem lhe abordou novamente.

- E então garoto, considerou minha proposta?
- Esqueça. Não preciso repetir o que te disse aquele dia.
- Claro que não. Uma pena...você parece talentoso. Mas tenho certeza que não vencerá a próxima luta.
- O que quer dizer com isso? – Sandro espantou-se com tal afirmação.
- Até mais, Il Niño...
O sujeito deixou o local e Sandro ficou agoniado. Já era quase certeza que seu segredo havia sido descoberto. Mas como?
Poucas horas depois,Sandro estava pra deixar o ginásio quando Ricardo um tanto quanto afobado, e tenso. Mal conseguia controlar as palavras.
- O que houve, pai??
-S-SUA AVÓ, FILHO! ELA FOI SEQUESTRADA!!!
Xeque e mate. Os mafiosos, suspeitando da estranha força descomunal do garoto, passaram a segui-lo e descobriram quem e o que lhe forneciam seus poderes. Ou seja, nesta altura, os mafiosos já sabiam de tudo e sua avó corria perigo.

Não demorou para que os mafiosos entrassem em contato. A conversa foi breve.
- Olá, garoto. Você já esperava esse contato, não?
- DEVOLVAM MINHA AVÓ!!!
- Calma, Il Niño. Você vai ter ela de volta. Mas pra ver sua vozinha novamente, você vai ter de fazer exatamente o que eu vou te dizer. Na próxima disputa do cinturão internacional você vai perder de qualquer jeito. Apostamos alto nisso....e será um prazer te ver beijando a lona. Nos vemos em Monterrey.
- MALDITO!
 O homem desligou. Sandro não tinha muita escolha...e a grande luta seria daqui dois dias.
Disputa de cinturão internacional. O campeão do México, Sandro Montoya, o “Il Niño”, contra Franco Guezarra, o “Bestia Rey”, campeão da Espanha. A luta aconteceria no grande ginásio de Monterrey.
Sandro se aquecia para o combate, e sua cabeça longe, pensando na avó. Lembrando de todos os momentos com ela, de tudo que ela lhe ensinara, de tudo o que ela representava. Em contrapartida lembrava do avô e do pai, do sonho da luta livre, do legado da família. Se Sandro perdesse, seu sonho e o de sua família estariam arruinados. Se vencesse, algo muito ruim poderia acontecer a sua avó. E pra completar, desta vez não havia sopa. As chances de vencer não seriam muito grandes.
O duelo teve início. Sandro se surpreendeu ao sentir normalmente os golpes adversários. Eram dolorosos, e mais ágeis. Na verdade sempre foram, mas só que agora podia perceber a real dimensão da luta. Levando grande sufoco no começo, Sandro aos poucos se adequou a dimensão do combate e começou a equilibrar o resultado. Mas oscilava. A dúvida perdurava em sua mente. Haveria uma saída para aquela situação?
Enquanto refletia, Sandro apanhava e muito. A platéia, fanática, ficava atônita com o que estava vendo. Os golpes se sucederam, até que recebeu de Bestia Rey uma chave no pescoço, que resultou em um choque de sua cabeça no chão, de modo que ficou caído na lona e atordoado. A contagem iria se iniciar. Sandro olhou para o lado de fora do ringue, e viu aqueles homens novamente: os mafiosos. Sandro reunia forças para erguer-se. Aqueles sujeitos não poderiam sair safos assim! O juiz contava...já estava nos 7. Foi então que em seu subconsciente, a lembrança do que sua avó lhe dissera na última vez que lhe entregara a sopa veio à tona.

-“Sandro, a verdadeira força está dentro de você! Não é a sopa em si que o torna forte, mas sim a crença que você tem no poder daquilo! Esta é a verdadeira fonte da magia asteca!!!”
 Sandro enfim compreendeu o segredo da sopa. Os ingredientes eram apenas um elixir, mas para aquilo funcionar era necessária a força de vontade, o acreditar, a força própria. Um sentido além dos cinco sentidos básicos e da intuição. O sétimo sentido.
Em um grande ímpeto, Sandro ergueu-se e explodiu em uma enorme força. Seus músculos incharam de forma descomunal, assustando a todos os presentes. Sandro pegou seu adversário pelo braço e o arremessou a metros e metros de distância, destruindo parte do telhado do ginásio. Assustadas, as pessoas começaram a evacuar o local.
Algumas vigas de ferro começaram a cair e o local começava a ruir. Sandro parecia crescer ainda mais, estava muito mais forte do que de costume. Uma pessoa permanecia ali, assustada como um cão covarde, observando a incrível reação do garoto. O homem de vestes pretas.
- Agora é a sua vez! – Inferiu Sandro, apontando o indicador para o indivíduo e partindo em sua direção.

- Não, espere!!! – O homem agora clamava por piedade.
- CADÊ A MINHA AVÓ???? – Sandro erguia o homem pela gola.
-Ela...não está mais em nossas mãos. – disse o sujeito, quase sufocado.
- O que vocês fizeram com ela????
- Se você me soltar, eu falo...
- ORA SEU...!
Naquele instante todo o teto do ginásio veio abaixo. Sandro teve apenas a reação de erguer os braços. Diversas vigas de ferro desabaram sobre ele e o sujeito., mas Sandro permaneceu de pé ao fim do desabamento. Ele realmente estava muito forte, e não sofreu sequer um arranhão. Quanto ao sujeito, não teve a mesma sorte. Sandro retirou seu corpo dos escombros, e verificou seu celular. A última ligação possuía um prefixo que desconhecera; era uma ligação estrangeira.
Sandro voltou para casa e relatou ao pai todo o ocorrido. Ambos decidiram investigar a origem daquela ligação, onde provavelmente encontraria sua avó, e conseguiram descobrir sua localização. Vinha de São Paulo, no Brasil. Ricardo sabia que seu filho tinha uma grande missão agora. E assim Sandro partiu, em direção a São Paulo.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

- Hoje nós bebemos em nome dele. Gustavo, você honrou o nome da corporação e estamos muito felizes. Você tirou das ruas um homem terrível. Vamos lá pessoal uma salva de palmas, ele merece.
Após o pedido do velho policial, todos os companheiros repetiram o gesto e gritaram em homenagem ao detetive.

História 6 – Gustavo em chamas

Gustavo chamou atenção por se tornar o policial mais jovem da história da polícia de Miami a carregar o distintivo de detetive.  Ainda mais quando conseguiu, através de uma pista, capturar o homem mais procurado dos Estados Unidos. Mac Miller, também conhecido como “O Pintor”, por pintar as suas cenas de crime com o sangue das vítimas, era o mais cruel assassino da história americana além de ter envolvimento com o tráfico de drogas e ser o líder de uma temível facção criminosa.


- Parem com isso galera! Vocês sabem que não fiz nada além da minha obrigação. Apenas estou cumprindo os juramentos que fiz quando entrei para a polícia. Além disso, não conseguiria sem o apoio de vocês. Sou muito grato.
Apesar do discurso, estava sim muito feliz e satisfeito com seu desempenho. Precisava disso para responder as muitas críticas e descrenças de alguns polícias que duvidavam da sua capacidade.

-Acho que nós deveríamos comemorar fora daqui. Vamos aquele bar em Virginia Key. Lá estão as melhores dançarinas de Miami.
Os homens riram alto e gritaram concordando com o chefe. Menos Gustavo.
- Desculpa gente, mas não vou poder ir. Hoje é um dia muito especial pra mim. Vou pedir minha namorada em casamento.
- Tem certeza disso? Casamento é muito mais difícil do que prender o homem mais procurado do país. – disse um dos colegas provocando um ataque de riso nos demais.
- Ok gente, vamos deixá-lo em paz. Vá Gustavo, você merece um descanso. – Apertando a mão do rapaz, o chefe da divisão de homicídios de Miami deu as ultimas congratulações antes de liberá-lo.

- Obrigado chefe! Até mais rapazes.

Gustavo foi rápido para casa naquele dia. Tudo parecia conspirar para que o jantar que planejara fazer para sua futura noiva desse certo. Até o trânsito caótico da cidade parecia ter tirado uma folga.
Quando chegou em casa, deixou as compras na mesa e resolveu ligar a televisão. Gostava de ver o noticiário enquanto cozinhava.

-As autoridades de Miami anunciaram hoje a prisão do maior assassino do país. O pintor, como ficou conhecido, foi levado hoje à delegacia onde foi interrogado pelo detetive, responsável por sua prisão, Gustavo Rufino.
Após ouvir as palavras da repórter na televisão Gustavo fechou os olhos e lembrou exatamente da conversa que teve com o prisioneiro.
- Quero nomes Mac Miller. Vamos, me diga alguns se não quiser passar o resto da vida preso.
O prisioneiro parecia não notar a presença do policial e falava sozinho.
- Que lindo dia não é mesmo? Sim, claro que é! Ah mas está tão quente! Pois é, quente, quente demais.
O policial bateu na mesa irritado e disse:
 - Não estou brincando Mac Miller. Você tem um minuto para me dizer alguma coisa útil ou eu levo você pra cadeia agora mesmo.

Pela primeira vez o homem olhou para o policial. Os olhos arregalados indicavam que ele não estava em seu perfeito estado mental.


- Não acha que está quente aqui policial? Eu estou sufocando. Parece que as paredes estão em chamas. Posso até sentir o cheiro de fumaça. HÁ HÁ HÁ! Você tem medo de fogo não tem? Como as pessoas podem ter medo de algo tão belo.

Mac Miller brincava com as mãos enquanto falava, simulando uma chama. Gustavo se irritou de vez e agarrou o bandido pela camisa.

- Não quero mais ouvir uma palavra sua seu monstro. Não me importa mais se você vai colaborar com a investigação. Eu quero que você apodreça na cadeia.
Com força, ele jogou “o pintor” no chão, que não se importou nem um pouco e continuou a brincar com as mãos, e deixou a sala de interrogatório.
Não queria pensar mais nisso. Aquele homem terrível teve o fim que mereceu. Agora ele queria dedicar-se ao jantar que ia preparar. Comprou todos os ingredientes para fazer um Penne ao molho branco, prato favorito de sua namorada.


O namoro começou com eles ainda crianças e hoje, dez anos depois, ele iria fazer o pedido que a tanto gostaria de ter feito, mas não achava ser o melhor momento.
O barulho da campainha o surpreendeu. Ela chegou muito cedo.
- Oi amor! – Disse ela ao vê-lo, assim que a porta se abriu. Ela parecia estar sempre radiante e ele nunca tinha visto ela sem um sorriso no rosto.  Essa era a qualidade que mais apreciava nela


- Você chegou cedo, eu...

- Já sei, você nem começou a preparar o jantar ainda certo? Já imaginava. Mas não tem problema. Eu vim correndo depois que vi no jornal meu namorado. Parabéns meu amor.
Em seguida deu um beijo demorado em Gustavo.
- Você quer uma ajuda com a mesa?
- Por favor, assim não jantaremos tão tarde!
A moça começou a organizar a mesa. Primeiro colocou os pratos e os talheres, em seguida colocou duas taças e o vinho que tinha trazido. Abriu a garrafa e serviu um pouco para si.
- Ei! – Gustavo gritou da cozinha.
- Desculpe, estou apenas experimentando!
- Sei! Deixe pro jantar - Os dois riram e voltaram para sua tarefas. A garota agora colocava algumas velas na mesa.

- Amor, onde você guarda os fósforos? – Ela perguntou olhando em direção a cozinha, aguardando a resposta.



- Tem uma gaveta aí na adega. Lá tem uma caixinha.

A moça foi até a gaveta e selecionou um fósforo cuidadosamente. Como não houve resposta Gustavo imaginou que ela não tivesse encontrado.

- Achou? – disse assim que a viu.

- Sim. Está aqui.
Ela ergueu o fósforo para provar.


- Ei. Eu queria te dizer um coisa importante.

- Huum! Coisas importantes devem ser ditas sob a luz de velas.

Ela foi delicadamente em direção a primeira vela. Gustavo ficou apenas olhando para a moça que tanto amava. Nunca teve tanta certeza a respeito de alguma coisa como tinha do pedido que faria em seguida. Iria passar o resto dos seus dias ao lado dela.

Tudo aconteceu num piscar de olhos. A última coisa que ele viu foi o sorriso da sua namorada e o fósforo acendendo. Depois disso ele apagou.

Acordou com o corpo dolorido. Tentou levantar ainda com os olhos fechados mas não conseguiu.O cheiro de queimado era forte e estava muito calor.

Gustavo não queria abrir os olhos. Sabia o que estava acontecendo. Não podia ser verdade, não enquanto não abrisse os olhos, o que aconteceu quando um pedaço do teto desabou e fez muito barulho. Agora ele estava vendo a cena que tanto temia.

Procurou com os olhos cheios de lágrimas por sua namorada. Não conseguia enxergar direito por causa da fumaça quente.

Andou até a entrada da cozinha onde encontrou o corpo da moça. Ela estava deitada com a barriga para baixo. O sangue escorria pelo seu rosto e mesmo assim ela continuava linda, com os cabelos incrivelmente arrumados. Como ela conseguia fazer isso?

Gustavo ajoelhou ao seu lado e não conseguiu mais conter as lágrimas. Ficou ao lado da moça por alguns minutos. Não se importava com mais nada. Ficaria ali pra sempre. Ficaria com ela pra sempre.
A esta altura o fogo já dominava toda a casa e mais uma explosão aconteceu fazendo voar cacos de vidro e derrubando parte do teto.


O ódio cresceu em seu coração de tal forma que parecia que ia explodir.  Em sua mente, Gustavo repassava a conversa que teve com Mac Miller e a sua fascinação pelo fogo. O desgraçado já havia planejado tudo.

Um súbito calor começou a subir pelo seu corpo. Era um calor insuportável que subia e o queimava por dentro, tanto que o fez gritar. O seu corpo ficou completamente em chamas.
Pegou um caco de vidro que encontrou no chão e olhou seu reflexo sem acreditar no que via. O fogo circundava seu corpo como se fosse uma manta mas ele não o sentia. Era imune ao fogo.
- O que está acontecendo comigo? Acho que eu estou morto. É isso, estou morto!
Mais uma vez ele fechou os olhos. A casa desabou em cima de seus ombros e ele desmaiou.
Uma hora se passou até que acordasse novamente. A dor era terrível. Não conseguia raciocinar direito.
Levantou com dificuldade e se sentou na maca.

- Ei! Cuidado! Você não deve se mexer. – falou o enfermeiro que tentava deitar o rapaz novamente, que não obedeceu.
- Onde eu estou? – falou ainda confuso.
- Você está no Mercy Hospital. Sua casa explodiu por causa de um vazamento de gás. Sinto muito!
- Obrigado- Gustavo fechou os olhos novamente.

- Eu vou chamar o doutor e dizer que você acordou. Se precisar de algo só apertar esse botão vermelho acima da cama.
O enfermeiro estava saindo da sala quando voltou de repente.
- Ah, seus pertences estão na cabeceira ao lado da sua cama. Pelo menos o que restou deles.
Com uma olhar triste o enfermeiro deixou o paciente sozinho.
Gustavo olhou para o local indicado pelo enfermeiro e com dificuldade pegou suas coisas. O Celular, que pelo estado não funcionava mais, a carteira que ainda estava suja por causa das cinzas e uma carta de baralho.

- O que é isso? Isso não é meu.
A carta de baralho estava intacta, diferente dos seus outros pertences. Era a carta sete de copas. Gustavo ficou olhando para ela tentando lembrar em que momento aquilo foi parar em seu bolso, mas não obteve resposta.
O mais estranho de tudo é que a carta tinha um endereço escrito em seu verso.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

História 5 - Vital, a voz que rompe o silêncio

Aquele grito certamente ressoou por toda a Terra. Além da barreira do som, além dos limites físicos. Um grito da alma, um grito adormecido. Naquele instante morreu um garoto, e nasceu um futuro herói. 



HISTÓRIA 5 – VITAL, A VOZ QUE ROMPE O SILÊNCIO 


Os monges tibetanos são conhecidos por ser um povo muito pacífico e recluso, vivendo além dos grandes picos. Passam o dia a meditar e a fazer rituais, longe de qualquer influência do mundo externo. Mas um pequeno garoto estava a caminho...e a corrente do destino traria ventos de mudança definitivos para o clã Qī. E para o mundo. 


Em uma aparente manhã comum, dois monges tibetanos encontravam-se nas proximidades de um rio a fim de buscar água. Um deles avistou algo incomum vindo a muitos metros à frente, mas em velocidade pela correnteza do rio.  

- O que é isto, mestre? – Perguntou Len Quo ao seu superior, referindo-se ao estranho objeto que se aproximava pela margem do rio. 
- Me parece um cesto, Len Quo. Vá até a margem e o apanhe. 
- Mas mestre, não vê que a correnteza do rio está muito violenta hoje? É arriscado! 
- Não se preocupe. Se for a corrente do destino, você conseguirá apanhá-lo. 
O monge apoiou-se junto à margem do rio Nam, mas a correnteza estava realmente violenta. O objeto veio com uma enorme velocidade, bicando pelo canto, quando Len Quo estendeu a mão para puxar o objeto pela enorme alça, mas o cesto foi mais rápido que o monge. 
- Eu não consegui mestre! 
- Olhe para o lado, Len Quo. O que eu te disse sobre a corrente do destino? 
Milagrosamente, o cesto ficou enguiçado em um galho de árvore alguns metros à frente. Os monges retiraram o objeto do rio e viu tratar-se de fato de um enorme cesto artesanal. E dentro do cesto, sobre a proteção de uma toalha, estava um bebê. Não parecia recém-nascido, mas também não deveria ter mais do que alguns meses. 

- U-uma criança, mestre! 
- Por Budah! Quem abandonou uma criança no leito do rio?? 
- Muito cruel. Pobrezinho, não chora. Parece estar mort... – Antes que o tibetano concluísse seu raciocínio, aquela criança aparentemente sem vida disparou uma rajada de urina em sua face. 
- Haha, ela vive! É um sinal de Budah. – Celebrou o mestre, elevando as mãos aos céus.  
- É mesmo uma dádiva! – Sorriu o monge ainda com o rosto molhado por urina. – Mas o que faremos com ele, mestre? 
- É óbvio. Esta criança nos foi enviada por Budah. Ele seguirá conosco ao monastério. 
- Compreendo.  
Os monges retomavam a trilha de matas altas e rochas delineadas, que se dava em uma espécie de estrada fechada, que tornava-se mais íngreme conforme avançavam. Enquanto o Mestre carregava a criança no colo, Lin Quo carregava os baldes d’água e refletia sobre uma questão relevante.  

- Como vamos chama-lo, mestre? 
- Ele resistiu a violência do rio Nam. O garoto é a essência da vida. Vamos chama-lo de Li. 
- Energia vital? Interessante. 
Os monges seguiram adiante pelo caminho recheado de rochas e delineamentos, que depois se davam em espirais não lineares de forma a subir os picos lentamente. Aquelas trilhas foram formadas pela própria natureza durante milhares de anos e muitos homens desconheciam suas origens e seus destinos. 

Ao fim de muita caminhada chegava-se na costa dos picos Min Min, onde se encontrava o Monastério do clã Qī. O enorme templo abrigava cerca de 2.000 monges dentro de suas diversas alas e brigadas. E todos os numerosos monges ficaram imensamente surpresos e curiosos ao avistarem o Mestre e seu braço-direito adentrando o templo com um bebê. 
- Alegrem-se, monges do clã Qī. Esté é o enviado de Budah! – Proclamou o Mestre aos seus milhares de pupilos. – Vamos recebê-lo com alegria! 

Aquele dia os monges celebraram com música e dança, além de beberes e comeres, algo que era fora de costume. Aquele era um dia especial. Ao fim da celebração, todos fizeram uma enorme corrente de meditação e oração a Budah, agradecendo pela vinda de um sinal divino. 
Sob os cuidados do Mestre e de Lin Quo, o garoto passou a ser criado com um cuidado extremamente especial. Os monges budistas acreditam fortemente na manifestação de sinais e prodígios divinos por intermédio de Budah, e segundo a sua crença, um sinal de Budah jamais deve ser ignorado. Por isso o garoto recebia vigília constante. Lin Quo se tornou o protetor do garoto, sob a tutela direta do Mestre. 

O tempo passava, e o garoto crescia saudável e forte. Aos quatro anos de idade já meditava e realizava alguns dos rituais cerimoniais dos monges, e a tocar tambores e instrumentos de corda. Aos cinco anos iniciou seu treinamento nas artes marciais, no princípio através de Lin Quo, e depois pelo próprio Mestre. Cada vez mais o Mestre se aproximava do menino, pois enxergava nele um potencial extraordinário, e passava a monitorar sua doutrinação mais de perto. Conforme o garoto crescia, mais o Mestre passava a se tornar seu mentor, e aonde quer que fosse o garoto estava do seu lado. Lin Quo, aos poucos, acabava sendo deixado de lado, tanto pelo garoto como pelo Mestre. 

O mais curioso é que o garoto não falava. Por mais que Lin Quo e o Mestre tentassem de alguma forma estimulá-lo ou provocar alguma reação, ele não falava. Mesmo quando sentia dor, se machucava ou algo do tipo, jamais gritou ou esboçou alguma espécie gemido. Desta forma os monges concluíram que o menino fosse mudo. Talvez fosse por este motivo que ele não chorava quando foi encontrado na margem do rio. Por este motivo o garoto também era conhecido pela alcunha de yǎ ba (mudo, em mandarim), mas o Mestre não gostava nenhum pouco de ouvir o chamarem assim. 
Vital, ou Li, como foi batizado pelos monges, já chegava aos doze anos de idade. Esta é uma idade crucial para um jovem monge. É a época em que este deve encontrar o seu apogeu espiritual através da imersão em meditação. Nesta altura, o menino era exímio no kung-fu e nas doutrinas de tai-chi-chwan, e até mesmo conduzia alguns ritos no monastério, sempre sob a tutela do Grande Mestre. Aliás, o Mestre e o menino eram agora como unha e carne. Vital sempre o acompanhava e estava ao seu lado o tempo todo, lhe auxiliando em tudo o que fosse preciso. Lin Quo, por sua vez, continuava a seguir a lado do Mestre, mas quase não recebia atenção alguma. Alguns comentários maldosos corriam pelo monastério, dizendo que Quo não era mais útil e que não passava de um puxa-saco do Mestre. Tais burburinhos irritavam profundamente Quo, que era, por escala de hierarquia no monastério, o segundo grande mestre e o mais provável sucessor ao comando após o fim do legado do Mestre. 
Por fim, era chegado o momento em que o garoto deveria retirar-se para a profunda meditação, o que ocorria em um templo localizado do lado externo do monastério, além do pátio principal. Aquele templo era chamado de Brigada da Luz, pois ali o monge receberia sua iluminação espiritual definitiva. Tal hibernação espiritual, como também era conhecido este ritual, não possuía um tempo certo de duração. O monge deve permanecer ali quanto tempo for necessário para que ele atinja o Halleluia, o estado espiritual perfeito. Isso pode levar dias, meses ou mesmo anos. Todos os monges do templo já passaram por este processo. Alguns homens mesmo morreram dentro do templo, pois por toda a vida nunca encontraram a Iluminação. 

- Você já sabe o que fazer, não é? – Inferiu o Grande Mestre ao menino, que acenou com a cabeça. O garoto caminhou até o centro do pequeno templo, sentou-se e cruzou as pernas em posição de lótus, a ideal para a meditação. Ergueu as mãos à altura do ombro e fechou os olhos. Neste instante, o Grande Mestre selou o portão do pequeno templo e deixara o garoto ali, por quanto tempo fosse necessário. Acreditava que não o veria por um bom tempo, pois o espírito do garoto deveria trilhar um caminho muito longo em busca de sua origem, e o Mestre sabia que este caminho seria diferenciado. Lin Quo o esperava do lado de fora, e ambos deixaram o local para voltar ao monastério. 

Longe do garoto, o Mestre, por mais que pudesse disfarçar, transmitia um semblante triste e passava a se distanciar dos demais monges, mesmo de Lin Quo. O Mestre sabia que talvez não voltasse a ver o garoto novamente, caso este passasse anos dentro do templo. O líder do clã Qī já possuía uma idade avançada. Isto preocupava a todos. Lin Quo tentava se reaproximar do mestre, mas era em vão. Ele estava muito recluso, quase não deixava a sala de meditação e falava muito pouco. E assim continuou sendo durante muitos anos. 
Era um dia cinzento e frio nos picos Min Min. A neve caía, de forma a ocultar ainda mais o Monastério por trás das grandes formações rochosas. Já haviam se passado quinze anos desde que o menino havia entrado em estado de hibernação espiritual. O Grande Mestre já estava bastante debilitado em função da idade, praticamente não deixava sua sala, e passava dias a meditar em silêncio. Silêncio este que era interrompido somente por suas tosses, que se tornavam cada vez mais constantes e violentas. Não restava muito tempo de vida para o velho líder do clã, e este pensamento já estava presente na mente de todos os monges do clã. Inclusive Lin Quo, que cuidava do líder doente sempre que necessário. Naquela tarde, Lin Quo decidira ter uma importante conversa com o Mestre. 

- Mestre, sei que está muito doente e não deve querer falar...mas tem algo sobe o qual precisamos conversar. 
- ...Sei do que se trata (cof!), imaginei que este dia estivesse próximo. Hurgh...sente-se, Lin Quo. – Mesmo estando quase cego, o mestre podia notar a postura de seu subordinado, e pedia que este se sentisse mais confortável. 
- Não é necessário. Mestre...sabes, melhor do que todos nós, que não tens muito tempo de vida. E que o clã precisará de um novo líder. 
- Claro. – Assentiu o Grande Mestre. 
- Mestre, como Segundo Líder Espiritual e Marcial dentro do clã, seu braço-direito e descendente direto do último Dalai-Lama, e por todos esses anos em sua companhia e próximo de todos os ensinamentos doutrinais ministrados diretamente por você, acredito estar preparado para assumir este posto. 
- Entendo seu posicionamento, Lin Quo. Mas (cof!)...lamento dizer que não posso te conceder este posto. 
- O QUÊ???? – A reação de surpresa e indignação foi imediata ao monge. Ele, assim como praticamente todo o clã, tinha como certo a sua sucessão á liderança. 
- Lin Quo, você se lembra muito bem daquele dia em que encontramos o garoto no rio Nam. Ele é uma dádiva de Budah, o escolhido dos deuses. Não há outro motivo para ele ter vindo parar aqui, senão para liderar este clã para um novo rumo. Hurgh... – O mestre se contorcia levemente com a dor e a vinda de uma nova tosse, esta acompanhada de sangue. 
- Isso não é justo, Mestre!!! Eu o acompanhei por todos estes anos, dediquei dias, horas, meses, sangue e suor ao seu lado, trabalhei com afinco por tudo e todos e fui extremamente disciplinado em todas as doutrinas do budismo. Por que este garoto, que sequer sabemos de onde veio, deve assumir o clã? 
- Não seja tolo, Lin Quo. Você sabe muito bem que não podemos ignorar um sinal divino. A origem do garoto não importa... sabemos que ele é o escolhido. ... Por que acha que ele ainda está meditando? É provável que ele tenha encontrado o próprio Budah em sua trilha espiritual. 
- Isto é bobagem! Me perdoe Mestre, mas acho que a idade já afetou a sua mente. Isso não faz o menor sentido. Não posso ser conivente com esta decisão. 
- Lin Quo... eu esperava mais sabedoria e maturidade de você. 
- E eu esperava um mínimo de gratidão! Estou francamente decepcionado, Mestre. Você não passa de um velho ingrato e doente! 

- Ora, seu... argh!!! – O velho sentia as ofensas de seu pupilo e se retorceu em um momento de dor emocional e física. Uma tosse muito forte o abateu, enchendo o assoalho de sangue e debilitando-o, de forma a não conseguir falar mais naquele instante. 
- Ainda vai pagar caro por esta escolha, Velho Mestre. – Profetizou Lin Quo antes de deixar o recinto, extremamente furioso. O Mestre apenas guardou-se na mesma posição que se mantinha, com falta de ar e muita dor. Dor esta somente não maior que a do coração. Ele havia perdido seu principal assecla e não conseguia entender de onde havia vindo tanto ódio e incompreensão. 

Alguns dias depois todos do monastério souberam do acontecido, embora evitassem falar sobre o assunto. Lin Quo já não permanecia mais ao lado do mestre, e muito pouco era visto dentro do templo. Outros asseclas passaram a cuidar do velho mestre, de forma periódica. Desde a discussão o Mestre estava ainda mais doente, quase imóvel e mudo. Às vezes, quando conseguia falar, perguntava sobre Lin Quo, mas os monges não sabiam responder. Perguntava também sobre o menino Li, mas este ainda permanecia em meditação. O Velho mestre desejava muito vê-lo outra vez antes que deixasse este mundo. 
Enquanto isso, Lin Quo passava mais tempo fora do monastério do que nele. Ninguém sabia dizer ao certo o que andava fazendo. Certo dia, Gu Mao, um monge considerado extremamente fofoqueiro e curioso, decidiu seguir Lin Quo, quando este descia a trilha dos picos Min Min rumo ao rio Nam. No entanto, o ex-braço-direito do Grande Mestre estava tomando um rumo diferente da trilha. Oculto atrás de alguns rochedos, Mao observava de longe quando viu Lin Quo adentrar uma espécie de planície arenosa localizada nas encostas do pico. Naquela planície encontravam-se alguns homens vestidos de terno e um helicóptero pousado. Mao jamais havia visto alguém além dos picos, portanto desconhecia aquelas vestes e ainda mais aquele estranho objeto com hélice. Esgueirou-se por entre a encosta, e tentava ouvir o que aqueles homens conversavam. 

- Eu garanto! – Afirmava Lin Quo aos engravatados – São tesouros genuínos do império Mei. Ouro puro, adornos de prata e rubi, pedras de jade e diamante escarlate... coisas milenares. 
- Bom...precisamos de uma garantia. – inferiu um dos sujeitos. Possuía aspecto asiático, muito provavelmente deveriam vir das cidades centrais ou de Hong Kong. 
- Veja, este é um de nossos artefatos. – Lin Quo tirou de um embrulho a adaga Fang, toda lapidada em ouro e rubi. A adaga foi usada pelo imperador Mei Fun em guerra, nos anos 10.000 A.C, quando este cortou a garganta de sua esposa. Ao ver o objeto, Gu Mao quase teve um infarto.  
- Não pode ser! Ele roubou a adaga! – sussurrou em espanto para si mesmo. O Templo de Qī guardava muitos tesouros do antigo império chinês. Estes tesouros encontravam-se selados em uma sala posterior a sala do Grande Mestre. De alguma forma, Lin Quo conseguira ter acesso a eles. 
- Está feito. Nosso chefe vai adorar. O que você nos pediu foi coisa grande, como bem sabe, mas já estamos acostumados com esse tipo de serviço. Quando devemos atacar? – Indagou o sujeito, que parecia liderar os demais. 
- Atacar??? O que ele está tramando? – O pensamento batia à mente de Mao. Algo muito ruim estava por vir. 
- Amanhã ao anoitecer. – Sugeriu Lin Quo. – É o momento em que todos estarão em seus retiros espirituais. Vocês devem pousar os helicópteros na planície externa ao pátio, assim ninguém os virá ou ouvirá chegando. Estarei lá esperando. 
- Certo. Seu passaporte para Hong Kong já está assegurado. Mais alguma ressalva? 
- Não. Só não esqueça de matar todos. Todos! Quanto ao velho, deixe comigo. – Ressaltou o monge, vingativo. 
Gu Mao entrou em desespero. Sem saber o que pensar, saiu correndo em disparada rumo ao templo, até que fora atingido por uma pedra na cabeça. Atordoado, caiu sobre o solo e viu a silhueta de Lin Quo surgir à sua frente.  
- Você viu tudo, não foi? – Intimidava o monge, dando em seguida um pisão na barriga do assecla gorducho e curioso. 

- Argh! O que vai fazer??? 
- Sabe que não posso deixar que volte ao templo com vida. – Forçava mais o pé sobre o sujeito, de forma a faze-lo gritar. Lin Quo era o lutador mais hábil do templo, e era de fato muito forte. 
- Não, tenha piedade! 
Sem pestanejar, Lin Quo ergueu Mao pelo manto e com a outra mão atravessou os dedos em seu pescoço. Mao estava morto, e o maligno plano de Lin Quo seguiria em frente. 
Na noite seguinte, como previsto, todos os monges estavam em meditação. Isolados, não mantinham o menor diálogo uns com os outros. O silêncio era absoluto. No grande salão encontravam-se todos os milhares de asseclas, em posição de lótus, liderados agora por Hun Cha, após o sumiço de Lin Quo. Ele sentava-se a frente de todos, próximo a porta principal. Enquanto isso, o Grande Mestre estava recluso em sua sala. 
Hun Cha ouviu um som estranho, e abriu os olhos. Sem certeza do que se tratava, preferiu não interromper a sessão. Ouviu outro som novamente, e então algumas das centenas de velas que percorriam o templo se apagaram de forma súbita. Era um sinal claro de mau presságio. Assustado, Cha levantou-se e tentou, sem fazer barulho, ir em direção a porta. Mas ela foi aberta antes que pudesse tocar a maçaneta. Com um estrondo enorme, a porta era escancarada por uma dezena de homens de terno, armados até os dentes. Cha só teve tempo de gritar. 

- CORRAM!!!! 
Tarde demais. Os homens abriram fogo no mesmo instante, e um verdadeiro massacre teve início. Os monges tentavam correr, mas era em vão. Lin Quo cuidou para que todas as demais saídas do pátio principal estivessem trancadas. Ninguém conseguiria escapar. Balas e mais balas, gritos e mais gritos. Antes que as rajadas de tiros tivessem cessado, não havia mais nenhum monge de pé. Um verdadeiro mar de sangue podia ser visto naquele cenário. 
Enquanto isso, Lin Quo invadia a sala do grande mestre. Ele, embora debilitado, percebera a presença de um pupilo seu. Lin Quo se aproximou do mestre e puxou-lhe pelo manto, com alguma força. 
- ...Lin Quo? É você? O que está fazendo? 
- Dê adeus ao seu legado, velho mestre! 
Lin Quo, com uma tocha na mão, ateou fogo na grande sala. Repleta de tapetes, cortinas e afins, não demorou para que o fogo se alastrasse em segundos. Sem qualquer reação, o Grande Mestre morreria queimado em instantes.  

A fumaça se espalhava rapidamente e já cobria quase todo o monastério. Enquanto Lin e os assassinos se preparavam para deixar o local, a fumaça adentrava de forma violenta a Brigada da Luz. O cheiro forte e a ardência das cinzas fez com que o garoto Li, agora um homem de 27 anos, despertasse subitamente de sua longa hibernação. O choque com o mundo físico foi muito forte, e o rapaz se viu bastante atordoado. Logo constatou que havia algo de errado, além da nuvem de fumaça, enquanto ouvia os últimos gritos dos monges assassinados. Com um golpe muito forte, quebrou o portão que estava selado e partiu em direção ao salão. Então deparou-se com a cena que traria a tona uma força imersa dentro de seu ser durante anos. Vital viu todos os seus colegas mortos, ensanguentados naquele enorme salão que começava a ser consumido pelas chamas. Os homens de preto, que retornavam pelo salão com alguns tesouros nas mãos, notaram a presença do rapaz, mas não tiveram tempo de reagir ao que se daria. Como jamais esperado de alguém que era considerado mudo, Vital deu um grito como jamais fora ouvido na Terra. Um grito capaz de provocar a erupção de um vulcão. Um grito adormecido a muito. 
- NÃÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!! 
No mesmo instante, uma enorme onda provocada pelo rompimento da barreira de som arremessou aqueles homens como se fossem feitos de papel. O chão, as paredes e vigas do templo, bem como tudo aquilo que ali se encontrava, começavam a ruir.  
Sem entender de fato o que aconteceu, Vital só pensou em tentar encontrar seu Mestre. Mas já era tarde, ao chegar no local, deparou-se, com corpo do mestre sendo consumido pelas chamas. Com lágrimas imediatas nos olhos e atônito a tudo que estava acontecendo, Vital olhou para o lado e viu Lin Quo, que naquele instante tentava fugir do local, já na porta do helicóptero. O monge traiçoeiro ficou incrédulo ao ver que o rapaz havia acordado de sua hibernação e acabara de fazer o que havia feito. 

- Não é possível....!!!! Você deveria estar morto!! Não...que droga! Eu me esqueci de você!!!! 
- Foi você quem fez tudo isso, não foi??? – Já estava óbvio, mesmo para Vital, que jamais soube da discussão entre ele e o Mestre, que Lin Quo fora o autor do massacre. 
- Você nunca foi mudo...será que Budah o despertou para esse dia??? Que droga! Você deve ser mesmo o escolhido! 
- Maldito! – Vital correu em direção ao helicóptero, mas este iniciou o vôo antes que pudesse alcançá-lo. 
- Obrigado por estragar minha vida, mudinho! Vai morrer queimado como todo o resto! 
Vital novamente se encheu de fúria, e desta vez lançou um grito ainda mais poderoso e estrondoso que o anterior. 

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!! 
As ondas sônicas fizeram com que os picos Min Min tremessem por completo. O alcance das ondas, em direção ao helicóptero, atingiu o objeto voador em cheio e este explodiu na hora. Lin Quo estava morto, assim como todo o clã Qī. Não restavam mais nada além de cinzas e sangue. Vital, ou Li, estava agora sozinho. Os gritos fizeram o templo, que já estavam em chamas, vir abaixo por completo. 
O que restava ao Escolhido agora, sem rumo algum. A única coisa que poderia fazer era meditar. Talvez Budah lhe mostrasse em mantra o porquê de tudo aquilo ter acontecido, e como ele conseguira fazer o que havia feito.  

Vital desceu à margem do rio Nam, onde fora encontrado quando bebê, e passou a meditar ali por horas. Depois dias. Até que, em determinado momento, uma luz muito forte invadiu sua mente e seus olhos. Após um transe rápido e violento, Vital teve uma sucessão de visões. A primeira imagem foi de um sujeito alto, careca, de óculos e bem trajado; uma segunda visão mostrava o número 7 estampado na faixada de um prédio; a terceira visão apontou a bandeira do Brasil e o mapa da cidade de São Paulo; e uma última visão mostrava o Porto de Hong Kong.  
O tempo em êxtase espiritual fez com que Vital estivesse muito próximo á divindade, e agora seus poderes ficavam claros. O escolhido possuía, além do grito supersônico capaz de ecoar por toda a terra, a capacidade de receber e conceber ideias e iluminações. As visões que recebera indicavam um trajeto, no sentido reverso. De alguma forma ele deveria chegar até aquele homem que lhe apareceu em visão. Talvez ele tivesse as respostas que procurava. 
Para isso era necessário chegar ao porto de Hong Kong. Vital sempre ouviu do grande Mestre que, além do rio Nam, encontrava-se o porto de Hong Kong. Seguindo a trilha do rio, após dias de caminhada, Vital deparou-se com o enorme porto e, logo de cara, um navio que tinha como destino o Brasil. Reconheceu aquela bandeira que lhe apareceu em visão. O navio tinha como destino o porto de Santos. 

Vital entrou escondido no navio e, após algumas semanas, desembarcou em Santos. Sem saber como se comunicar, desenhou aquele prédio com o número 7 estampado que lhe aparecera em visão e mostrava às pessoas, esperando que alguma delas lhe ajudasse a chegar lá. Peregrinou muito até que, em um posto de gasolina próximo à rodovia, um homem de cabelos grisalhos se espantou ao ver aquela imagem. 
- Você conhece este lugar??? 
Vital não entendera nenhuma palavra, mas assentiu com a cabeça por imaginar o que ele havia perguntado. Na verdade sequer sabia exatamente onde ficava ou o que era aquilo, mas deveria dizer que conhecia se quisesse que alguém o ajudasse a chegar lá. 
- Sei onde fica, mas prefiro não me meter com essa gente. Entre no carro, estou indo pra São Paulo agora. 

O homem teve de fazer um sinal para que Vital entendesse que deveria entrar no carro. A viagem não foi muito longa. Aquele homem falava bastante no início, mas depois percebeu que era inútil pois o viajante não entenderia nada do que dissesse. Durante a viagem Vital observava as paisagens poluídas e cinzentas da cidade. Mas também não conseguida disfarçar a curiosidade ao notar as manchas que aquele homem carregava em algumas partes do corpo. O sujeito pareceu constrangido com o olhar curioso do monge, e então o tibetano parou de observá-lo. Poucos instantes depois, já estavam em São Paulo. Após adentrar algumas ruas bruscas, o carro parou exatamente em frente ao prédio que Vital vira em visão. Parecia inacreditável, mas ele havia chegado. 

- Agora é com você. Boa sorte. – Proferiu o motorista, que acelerou fundo após deixar o monge em frente ao prédio. 
A profecia parecia se cumprir. As visões foram claras. Agora, quem e o que lhe aguardavam lá dentro? 
E por fim, quem era aquele misterioso homem careca de óculos? 
As respostas não tardariam a vir.